Antes de dormir, descanse suas preocupações mais singelas nos ombros da amada bela. Em um barco a vela, no dia seguinte, encoste a cabeça dela no seu peito e perceba o carinho que ela guarda em seu íntimo e que o aguarda em breve. Releve as discussões ilhadas e perca de vista ilusões naufragadas. Guarde as gargalhadas mais sinceras dela e prenda as músicas mais tristes da vitrola naquela gaiola distante. Deixe os desejos antigos no pomar, junte as cartas sem sentido e atire ao mar, ou coloque em uma mala e permita que naufrague num rio qualquer. Pense na mulher que rouba seus sorrisos bobos e seu pensamento e em como seriam suas risadas e olhares sem os dela. Na janela, jogue as recordações mais empoeiradas fora. Diga-lhe que se lembra, minuciosamente, do dia em que se conheceram. Comece a colorir a vontade de vê-la em um leve papel para que, neste imenso céu, os pássaros brancos dos sonhos dela possam voar quando se reencontrarem. Lembre-se daquele cabelo liso encostando, de modo impreciso, na sua barba, mesmo se estiver ligeiramente molhado de chuva. Permita que ela durma com as suas camisetas de banda e, de forma branda, deixe o cheiro natural dela na sua roupa e pele. Revele em pensamentos as fotos que tiraram juntos em viagens que ainda farão. Roube dela a solidão e embrulhe a sua falta de jeito. Roube também aquela voz só para cantar enquanto você sonha. Pinte sua fronha com a felicidade que há naquele rosto e deixe que cada desgosto se pulverize em canções e equações de amor. Antes que ela vá embora, olhe para sua face e, sem disfarce, diga o quanto quer cada detalhe daquela mulher. Deixe que a poesia seja seu guia enquanto revela seus sentimentos àquela que deseja. Neste instante, perceba que seu semblante revela também o quanto ela aguardou por aquilo e o quanto seu coração faria por aquele beijo.
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