Certa vez, Clarissa confessou à amiga alguns pequenos detalhes da vida, pensou naquela frase "e Kafka fez da arte sua reza" e começou a escrever, intensamente. O resultado de Clarissa não era tão exato, porque ela acreditava que a reza e a escrita não eram tão próximas da matemática quanto a música.

Quando pequena, o acetato não caía bem em Clarissa. Quando adolescente, apaixonou-se pelo acetato na face em forma de óculos. Ademais, às vezes, faltava um certo cuidado dela para com seu querido “óculos de jornalista”. Pela armação não resistir à troca do grau das lentes, de tempos em tempos (cerca de 3 ou 4 anos), era preciso trocá-las. Daí era só saudade, um tanto quanto triste até que ela se adaptasse aos novos óculos. Apegava-se aos antigos e aos amigos também.
Clarissa buscava muito além de cativar os amigos e de criar laços... <3 Isso mesmo, laços, não nós atados. Buscava manter os belos laços que fazia a partir de fitas coloridas. Mas era necessário abandoná-los; laços e óculos; às vezes, para não quebrar ou desfazer preciosidades antigas. Embora não quebrasse nem estragasse óculos para aumentar os graus das lentes, enxergar melhor e beneficiar sua própria visão, sentia-se partida ao precisar partir sem eles. Sem óculos antigos, parte dela era saudade, partida, parte Ida...
Como uma flor que havia perdido uma pétala ou algumas delas. Como um mar de saudade com parte da água evaporada e saudade do que foi um processo natural num ciclo de águas... Como uma geleira, um grande glaciar com partes descongelando, como ocorre, naturalmente com a mudança de temperatura. Ah, o tempo... Ele desgasta ciclos; sentimentos; sons; flores; ocorridas dores; diversas cores e até os óculos, então, é preciso deixá-los para a vinda de novos.
Ou o tempo até resgata os sons, sentimentos e ciclos, mas é preciso dar tempo ao tempo ou abandonar óculos outrora queridos para aceitar que os passados passam como passarinhos que voam. Voam porque é lindo voar e passarinhos podem, pois possuem asas, inclusive, de modo que não somente podem voar, como merecem fazê-lo!

Ponto final é final e final pode ser parada ou ida. Clarissa preferia acreditar em ida. E ida é ida, ou seja, foi; ficou no passado. Assim, foram-se, um a um, dois a dois. Assim, fazia-se necessário aceitar que a vida vai passando com o passar dos passarinhos e, de tempos em tempos, em ComPassos com o som da praia; dos peixes no mar; das ondas; das conchas; das tartarugas mais belas de projetos; das estrelas do mar ou até das do Céu.
Até que há um ponto de encontro um tanto quanto infinito, embora ido. Um ponto de encontro em que óculos possam se encontrar ou, ao menos, esbarrar-se. Nesse ponto; entre a arte e a ciência; entre Sol, Lá e Si; lá, uma lente diz: -Oi, sempre te vejo por aqui, como vai? -Vou bem, muito bem. Vou-me da redoma. Estou de mudança. E a outra lente responde: -Vou me mudar também, estou também nesse processo. Vemo-nos por lá, então?
E foram caminhando, cada lente para um lado, distantes, porém um pouco próximos. Clarissa estava ao som de "Of Monsters and Men, My Head is an Animal, the Full Album", mas repetia especialmente Little Talks, Slow and Steady e Yellow Light. <3
E foram caminhando, cada lente para um lado, distantes, porém um pouco próximos. Clarissa estava ao som de "Of Monsters and Men, My Head is an Animal, the Full Album", mas repetia especialmente Little Talks, Slow and Steady e Yellow Light. <3
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