sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Some words for him: domingo é moça.


Ela amava o jeito como ele a olhava, como se não houvesse criatura mais bela no mundo; como se ela fosse uma borboleta que surgisse com os raios de Sol, como espirros dos arco-íris. Ela amava o jeito como ele escrevia, com enorme habilidade sobre as palavras... E o jeito como escrevia sobre ela, mais ainda, amava cada letrinha. Aqueles sonetos, que hoje lia e relia, como não podia ver antes quão belos eram? 



Ela não se importava mais com o que passariam amanhã, ou depois ou mais depois ainda (risos). Aliás, importava-se sim, mas aceitava até as possibilidades, pois agora podia perceber, e já se sentia satisfeita com o que haviam sido ou somavam um ao outro... bastava que as teclas do piano dela estivessem próximas às do dele... ótimo! 

Ela amava o jeito como ele a desejava, aquele que não conseguia não notar quando estavam juntos. Ela sentia que, enquanto falava, ele a olhava como quem parece pensar: “vou beijar você em breve, meu morango”. Ela amava o jeito como ele parecia a admirar e respeitar, como se ela fosse uma criação com quem tanto sonhara, como se o sorriso  dela despertasse parte do brilho dos seus olhos, como se ela fosse uma criatura que voasse como um pássaro e encantasse como flor, bonita de qualquer jeito, naturalmente, de verdade; sem muita explicação, sem tirar nem pôr. Sim, ela deveria estar lendo política naquelas horas, mas - até uma vontade incontrolável de descrever a história deles - ela amava. Ela amava os gostos afins, os incomuns, a forma como ele a inspirava a transformar o cotidiano em algo cinematográfico. E, ao final da estação e início da primavera, ela ouviu ele dizer:


- “Você continua linda com este vestido laranja, o que vestia quando nos conhecemos. Você pode pensar que não, mas eu me lembro que estava com ele. Pode me esperar no roseiral que fica do outro lado do lago, tenho um segredo”.

Enquanto seguia aquele pássaro azul, curiosa, reparando no reflexo do beija-flor que pairava sobre a água; enquanto os primeiros raios de sol embelezavam a água e o início do dia, ela, atrás daqueles óculos com lentes grossas, perguntava-se qual seria o segredo, o que o destino traria. Um silêncio profundo tomava conta do parque onde os dois estavam. Logo após, uma nuvem imensa de borboletas levantou voo, no instante em que ele apareceu e parecia acompanhar aquele espetáculo da natureza.



As cores estavam cada vez mais diversas e eles não se cansavam de olhar para as flores, agitadas e delicadas, oriundas da primavera... e para a dança das borboletas. Já não se imaginavam num mundo cheio de borboletas, estavam nele, sonhadores e felizes e viam, às margens do lago, que nada havia sido em vão.

Então, os sonhos ganhavam vida própria, o passarinho bebia o néctar das flores e ele sussurrava: “a beleza é vulnerável, não tem muita explicação mesmo, mas a gente reconhece quando existe. Bonito mesmo é quando você me ilumina. Sim, eu quero pintar o que você sonhou, mesmo que eu ainda não saiba pintar”. 

À noite, lá estava ele debruçado sobre sua prancheta. Cansado pela oficina imaginária dela, mas feliz por estar ao lado. À noite, lá estava ela, naquela sexta-feira, pensando nele, nas conjecturas, no quanto queria que o talvez dele se comunicasse bem com o dela. 

E, ao som de Clair de Lune, ela pensava e anotava em seu bloco de notas: "bem-vinda, primavera, traga o que for colorido, no tempo que vier."

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