Ela amava o jeito como ele a olhava, como se não houvesse criatura mais bela no mundo; como se ela fosse uma
borboleta que surgisse com os raios de Sol, como espirros dos arco-íris. Ela amava o jeito como ele escrevia, com enorme habilidade sobre as palavras... E o jeito como escrevia sobre ela, mais ainda, amava cada letrinha. Aqueles sonetos, que hoje lia e relia, como não podia ver antes quão belos eram?
Ela não se importava mais com o que passariam amanhã, ou depois ou mais depois ainda (risos). Aliás, importava-se sim, mas aceitava até as possibilidades, pois agora podia perceber, e já se sentia satisfeita com o que haviam sido ou somavam um ao outro... bastava que as teclas do piano dela estivessem próximas às do dele... ótimo!
Ela amava o jeito como ele a desejava, aquele que não conseguia não notar quando estavam juntos. Ela sentia que, enquanto falava, ele a olhava como quem parece pensar: “vou beijar você em breve, meu morango”. Ela amava o jeito como ele parecia a admirar e respeitar, como se ela fosse uma criação com
quem tanto sonhara, como se o sorriso dela despertasse parte do brilho dos seus
olhos, como se ela fosse uma criatura que voasse como um pássaro e encantasse
como flor, bonita de qualquer jeito, naturalmente, de verdade; sem muita explicação, sem
tirar nem pôr. Sim, ela deveria estar
lendo política naquelas horas, mas - até uma vontade incontrolável de descrever a história deles - ela amava. Ela amava os gostos afins, os incomuns, a forma como ele a inspirava a transformar o cotidiano em algo cinematográfico. E, ao final
da estação e início da primavera, ela ouviu ele dizer:
Enquanto seguia aquele
pássaro azul, curiosa, reparando no reflexo do beija-flor que pairava sobre a
água; enquanto os primeiros raios de sol embelezavam a água e o início do dia,
ela, atrás daqueles óculos com lentes grossas, perguntava-se qual seria o
segredo, o que o destino traria. Um silêncio profundo tomava conta do parque onde os dois estavam. Logo após,
uma nuvem imensa de borboletas levantou voo, no instante em que ele apareceu e
parecia acompanhar aquele espetáculo da natureza.
As cores estavam cada vez
mais diversas e eles não se cansavam de olhar para as flores, agitadas e
delicadas, oriundas da primavera... e para a dança das borboletas. Já não se imaginavam num mundo
cheio de borboletas, estavam nele, sonhadores e felizes e viam, às margens
do lago, que nada havia sido em vão.
Então, os sonhos ganhavam
vida própria, o passarinho bebia o néctar das flores e ele sussurrava: “a
beleza é vulnerável, não tem muita explicação mesmo, mas a gente reconhece
quando existe. Bonito mesmo é quando você me ilumina. Sim, eu quero pintar o
que você sonhou, mesmo que eu ainda não saiba pintar”.
À noite, lá estava
ele debruçado sobre sua prancheta. Cansado pela oficina imaginária dela, mas
feliz por estar ao lado. À noite, lá estava ela, naquela sexta-feira, pensando nele, nas conjecturas, no quanto queria que o talvez dele se comunicasse bem com o dela.
E, ao som de Clair de Lune, ela pensava e anotava em seu bloco de notas: "bem-vinda, primavera, traga o que for colorido, no tempo que vier."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela contribuição!