domingo, 20 de dezembro de 2015

Um poema para chamar de meu

De todas as rezas, escrita
De todos as músicas, erudita.
De todas as pinturas, aquarela
De toda a liberdade, bela.
De todos os erros, efeitos
De diversas obras, tela.
Dos feitos e efeitos adversos, cautela...

De toda a beleza, a natural
De toda a natureza, respeito.
De todo o medo, coragem
De toda a seriedade, alguma bobagem.
De todos os pássaros, bem-te-vi
De todas as pessoas, a si...

De todas as decepções, tentativa
De toda a solidão, beleza.
De toda a beleza, atrativa
De todas as bebidas, vinho.
Dos vinhos e vindos da vida, os próprios...

Dos espelhos, nem tanto nem tão pouco
De tudo, por tudo e para tudo, escolhas.
E de todas as escolhas, as feitas...
de
fin
iti
va
mente.






quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Das escolhas



Escolha: uma palavra, sete letras, sete dias da semana. Escolha: três vogais, quatro consoantes e um caminho a percorrer. Escolha: a completa solidão, a presença incompleta, algumas dores, outras alegrias, no meio da deliciosa liberdade de decidir o próprio trajeto. Entre um chá e outro, as louças a lavar, os trajes, o varal, os tropeços, os calendários e os cronogramas a serem alcançados. Trapos e traços, pratos e prateleiras, parcerias e jogos, lembranças e retratos da noite anterior, aquele som animado para incentivar a limpeza de tudo e as recordações do que havia se passado em míseros meses em um apartamento que se tornava cada vez mais um lar. Quatro meses da mudança, somados de três semanas para reviver os milhares de chás que se tomara ali, as poucas sopas e as saladas em menor quantidade ainda, ainda que presentes. Quase cinco de mudança, nove letras de “lembrança”, sete de “escolha” e de um mundo de possibilidades desvendadas e a descobrir entre a troca das fronhas da cama do quarto de dormir. 

Enfeites de Natal aqui, molduras colocadas ali, papéis, porta-retratos, pipoca, paçoca, pregos, aquelas aquarelas enfim penduradas, as sacolas de supermercado, a retornável da feira de orgânicos, as flores da feira, a lista incompleta, os itens esquecidos, os quadros e os fardos de determinados momentos em que o estar só não basta. Embrulhos de tristeza, pacotes de felicidade, misturados em sensações de liberdade e solidão. Feijão, memórias, histórias, canecas, canetas, conexões, colchões, colares, colos, cômodos, incômodos, simples felicidades, apertos, apetrechos, aparelhos, alimentos apimentados, amabilidades, mais porta-retratos, fotografias, portas, janelas já limpas. Listagem do que falta comprar, consertar, construir, colar, acomodar, aceitar. Anotações, anedotas, notas, novidades, notícias, novos móveis, antigas amizades. Rotinas, climas, óculos, ônibus diferentes, carro, bicicleta. Atitudes, atividades, arroz integral, a conta a vencer, a planta a aguar, o lixo a descer, a falta de uma TV que nunca havia sido tão sentida, a nova tevê, os filmes e o DVD, a responsabilidade, as possibilidades, a vida adulta. Pacotes de porcelana, de esperança, de realidade, de receio, de falta, de conforto e da falta dele, por vezes. 

A partida de casa, a saída, a escolha, a tão difícil escolha, aquela que liberta e crucifica. Aquela que, tal como o amor, é dolorosa, embora deliciosa; é positiva e necessária, embora temida. Escolher é: permitir-se partir quando for a hora; deixar ir embora parte de nós para que parte permaneça; tal como a saudade não é a ausência, mas o que importa de algo quando este algo se vai ou se fora e, no fundo, o que realmente importa é como lidamos com a ida, com a transformação, com a mudança, com a tal da escolha. Porque, no fundo, no fundo mesmo, o que permanece é um pouco desse pequeno tudo isso, no qual a zona de conforto já não cabe. Não cabe em palavras e poemas. 
Não há vagas para o comodismo neste lar. 
Não há vagas.

"I'm looking for a place to start
 And everything feels so different now
 Just grab a hold of my hand
 I will lead you through this wonderland"

Ao som de: Yellow light.