Algumas pessoas, algumas horas, a
partir de fotos, fatos e situações trazem questionamentos, oferecem dúvidas,
desapontamentos e incertezas. Outras, mesmo sem perceber, pessoalmente ou com
seus textos e canções, alimentam esperanças, confortam e disponibilizam, além
de casa, calma, colo, consolo, carinho e cafuné. Afeto, apreço, alívio,
acalento. Todas elas nos ensinam a dar tempo ao tempo, a ouvir o que a vida
quer expor, traduzir, revelar, descobrir, falar e, às vezes, recusamo-nos a
escutar, apesar de o coração também dizer. Como a menina, que já pequenina
sentia e falava que era preciso escutar o que o coração diz, a mesma que
deixava o sorvete cair por ainda não conseguir equilibrá-lo. Aquela que tentava
aceitar todos os pretéritos: os perfeitos, imperfeitos e mais que perfeitos,
por menos perfeitos que eles parecessem ser. Aquela que procurava aceitar que a
admiração, o amor, a paixão, a paciência e a tolerância, assim como o tempo,
passam. E que é preciso aceitar o passar do tempo e de tudo que nele se insere:
horas, segundos, minutos, traduzidos em experiências, músicas, poemas, ais, oi
e adeus, talvez em um até logo, em filmes e também em trilhas e películas sem
tradução. Para ela, confortava a aceitação de que tudo tem seu lugar, tempo e
momento; de que cada panela tem uma tampa; de que as angústias são atenuadas
pelo tempo; de que cada frase tem sua pontuação, seja ela reticências, vírgula,
um ponto aqui e outro ali, dois pontos, ou ponto final. Confortava o
entendimento de que palavras nem sempre são necessárias, assim como algumas
silenciosas lágrimas e a ausência. Confortava também a solidão e o pensamento
de que algumas certezas um dia perdem o sentido. Só que, às vezes, confortava
mais ainda um banho quente e demorado, apesar dos problemas do mundo, de
distribuição de água, do aumento dos preços, inflação, guerras e conflitos,
política e partidos, eleição e corrupção, enfim, bastava, para ela, naquele
momento e lugar, um banho quente, tão quente quanto o leite com achocolatado
antes de dormir.
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