Por gentileza, caro leitor, coloque para tocar o som do Bernardo John. La Liga, mais especificamente.
"[...] De onde vem esse frio? Não é estranho esse calor? De onde vem esse Sol? O que são esses olhos? Pra onde vai tanta alegria? O meu egoísmo tenta concentrar em mim [...] Mas eu não sei falar espanhol e nem quero ver você partindo, eu prefiro você reclamando que eu só assisto futebol no domingo [...] Mas eu nem sei jogar futebol, também não quero ver <3 você partindo, podíamos estudar espanhol juntinhos no domingo [...]".
Agora sim, fique à vontade para prosseguir.
Naquela noite, ela havia passado seu batom vermelho, colocado seus brincos, sua jaqueta de couro azul e um short jeans, cujo bolso carregava nada mais do que alívio (será?). Com menos ele, menos zelo, menos cabelo, menos sobriedade, menos expectativas e menos tempo de vida [e de vida dele na dela], ela pensava no que havia sido feito.
Com convicção e um punhado de amor-próprio, concluíra que aquela despedida havia sido a mais sensata das decisões, independentemente de como, de quando, de onde, do coração, da santidade, do samba, do samba-enredo que se perdeu (em conjunto) tão facilmente, da banda, do Tom, do Vinícius, do Soneto dele, não dos do Vinícius, dos seis, da falta de consideração. De muita sensatez e palavra pra pouco amor, de muito amor para pouco Soneto.


O passar do tempo faria ainda mais. As músicas, o violão, o tango, o lugar, o distante, o piano e a paisagem de um novo dia já não bastavam mais, nem bastariam, porque o cristal havia se quebrado, ao lado do piano e do violão que ele tocava sozinho.
Também não bastaria o concerto que não chegaram a ver juntos, nem o teatro, nem o cinema. Nem o piano, nem a mão ou música dela, nem a mão dele cansada de tocar seu próprio piano (ou violão). Nem repertório, nem pasta, nem partida, nem viagem, nem Vitória, nem cafuné, nem chocolate, nem afeto, nem cantor, Chico, banda, pseudodueto, microfone. Nem voz, corda, tecla, teclado, baqueta, bateria, bloco, nota, anotação, nem nada: ela nadava sozinha.
A questão é que não havia nada a ser feito nem tempo-para-entregar-ou-vontade-de-ganhar uma conchinha catada do mar. A questão é que não existiam lugares para os dois serem felizes juntos, nem para viajarem juntos, nem em letras de Tango, nem em poemas, nem em Soneto, nem em museu, nem nada.
Nada para ser (re)feito, (re)lido, conversado, discutido, dialogado, monologado, paciência, tempo. Leitura, (re)leitura, olhos, óculos, ósculos, ônus, pauta, preto, branco, beijo, mistura, ausência, rabisco, escrito, falta, poesia, impaciência, incompatibilidade, imperfeições, excessos, tempo, poema, disco, excesso, egoísmo, tempo, peso, pausa, pauta e fim; e pronto e ponto final.
De domingo-moça, de quem não faz promessa, de quem cumpre (quando faz), de leveza-de-luz-branca, de quem tenta, de cabrochas ou pechas (tanto faz), de portas já fechadas, de coração de mel e melão, de sim, em vez de tanto faz, de batons vermelhos que são dos lábios dela.

Pois que parta. Pois, então, que se vá pela porta ao lado, na outra direção, nem paralela, nem perpendicular, nem perto, bem (e distante). Pois que vá mesmo pro tango!
Quanto a mim?
Rock ou a valsa que me faz bem.
Quanto a mim?
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa, porque respondo por mim, porque tenho, ao menos, poesia e um pouquinho de Leminski e Lenine na vida, porque a minha paciência é suficiente. Obrigada, de nada.
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