quinta-feira, 30 de abril de 2015

Clube da caneca: muito além de uma boda de ouro... CaneCaPreferida.

Certa vez, Isabelle (que conheci por Tiago, que conheci por outro amigo querido, o Caio), ciente de minha coleção [pequeña, mas crescente, diga-se de passagem] de canecas, solicitou que eu escolhesse a favorita... Minha caneca preferida. Tarefa difícil, um desafio na verdade, para quem tem dificuldade de escolher apenas uma caneca, apenas uma banda, apenas uma atriz, um diretor de cinema, apenas um livro, apenas uma arte E/ou somente uma ciência. Enfim, a dificuldade de optar por algo, sabendo da qualidade de demais "AlGos", pareceu-me um desafio. Então, coube a mim aceitar o desafio e redigir um PetitTExtinho sobre a minha caneca mais querida. Não foi fácil perceber a mais importante caneca da minha coleçãozinha cheia de histórias, com canecas importadas ou não, nacionalíssimas. Não foi fácil porque meus olhos enxergavam todas como lindas, embora diferentes umas das outras. Não foi fácil perceber, mas... percebi. 

Ah, foi difícil também escolher somente uma fotografia, mas nada impossível de ser realizado. Compartilho aqui a caneca eleita e o material publicado no sítio dela, de Isabelle, em 15 de Abril de 2014. 

Entre xícaras, linhas, cafés, histórias, chocolates, memórias e principalmente ela, minha coleção de canecas, circula aqui a escolhida. A caneca que elegi para escrever sobre não foi comprada em Nova Iorque, nem importada dos Estados Unidos, não foi presente da vovó, não traz a figura da Mafalda, do Pequeno Príncipe, de obra alguma de Van Gogh, nem frases de Jane Austen, como as outras da coleção, mas merece igualmente seu espaço na prateleira. Nas horas vagas, além de me dedicar à música e apreciar cafés, participo de eventos, assessorando cerimonialistas na organização de casamentos e bodas, por exemplo. Cada momento da cerimônia, cada “sim” de uma noiva, cada declaração de um noivo é uma oportunidade de me emocionar. Eis que em uma destas comemorações parte dos brindes era uma caneca personalizada com a foto do convidado. Felizes da vida comemorando suas bodas de ouro, os anfitriões da festa presentearam tanto a cerimonialista como suas assistentes com a caneca personalizada. Faz alguns anos que ganhei e, desde então, não desgrudo dela, do início ao fim do dia, da cozinha ao quarto, passando pela pia, pela bancada, pela cama, até mesmo pelo chão e pela recordação. Ela é a mais utilizada das canecas colecionadas e o que a torna tão especial são as lembranças das ocasiões felizes das quais participei, colaborando, de alguma forma, para a concretização de momentos de comemoração na vida de diversos casais.

Ps.: O Café com chocolate possui imagens de dar água na boca... Acabo de comer bis, mas vale a pena olhar chocolates, cafés, canecas e textos. Eis o link: https://cafecomchocolate.wordpress.com/2014/04/15/clube-da-caneca-muito-alem-de-uma-boda-de-ouro/. 

Obrigada pelo espaço, IsaBelle, gostei de ter escrito sobre minha pequenina coleção!

sábado, 25 de abril de 2015

Acostumei-me a ser mar.


Não estou acostumada com um desejo que sinto somente pelo toque. Acostumei-me a sentir um olhar que deseja, embora evitando demonstrar qualquer desejo, embora encontrando o meu olhar discretamente, manifestando-se, embora de maneira reservada. Acostumei-me a ser um mar de palavras, de sons, de conchas e de grãos de areia. Um mar com um aroma peculiar. Um mar e, ao mesmo tempo, uma simples gotinha. Acostumei-me a abraçar gotas, pessoas, cousas e causas. Acostumei-me com um jardim sobre o mar. Acostumei-me a ser mar e jardim. Sem ti, sentir-me refrescante e florida como um mar cheio de flores sobre ele. 

É uma questão de ponto de vista, em um ponto cujo olhar não manifesta o que o outro sentido percebe. Ou manifesta, embora de forma obscura, não tão Clara.


domingo, 12 de abril de 2015

Percepções De uma viagem de ônibus Para passar a páscoa na vovó: De Projeto Clara Para Projeto Tamar.

Qualquer viagem vale a pena quando a alma não é pequena. Seja a própria viagem, seja sua viagem com uma passageira-flor ao lado, seja a viagem de todos juntos em um só ônibus. Ou seja, você e os demais passageiros do ônibus ou apenas as viagens de duas adultas jovens, neste mesmo ônibus, a respeito de si mesmas. Você entra no ônibus e avisa a uma das passageiras que ela havia esquecido um pacote lá fora: “acho que você esqueceu aquela caixa lá fora do ônibus. É sua né? Cuidado para não ficar lá porque o ônibus já está partindo”. Você senta no assento número 12 e a jovem ao lado precisa de um fone. Você tem dois e empresta um fone a ela. Mas vocês duas não utilizam o fone porque não param de conversar e, então, o fone já nem tinha sido mais necessário durante a viagem, porque havia ali muita conversa e muito compartilhamento de experiência, de chocolate, de memória... Nostalgias do início de uma páscoa de verdade.


Durante cerca de três horas e meia de conversa constante, chegam a mesmíssima conclusão da moral da história de "a lebre e da tartaruga". A sábia fábula tem como moral a conclusão de que “devagar se vai ao longe”, cada um com um jeito e uma velocidade, mas com a noção de que a persistência e o esmero levam à moral de que realmente devagar se vai ao longe [reforça-se aqui o Realmente se Vai]! Cada um no seu tempo, com variadas velocidades e cores, cada qual com suas flores e percepções sobre a viagem e sobre uma vida que ora é em preto e branco, ora colorida. O importante é pintar, desenhar, colorir ou até descolorir e descobrir. Colorir sozinha ou com seu priminho de apenas três aninhos. Pode ensiná-lo a desenhar corações, estrelas ou perceber que a visão dele sobre o Céu, as estrelas e os corações pode ser ainda mais linda. E se tais visões não forem comparáveis, ensina-se que não o são e que as dele podem ser tão belas quanto ele quiser e conseguir realizar [ou não] o que quiser. As percepções dos passageiros no mesmo ônibus são diferentes, o que é lindo: a diversidade de opiniões, em um ônibus qualquer que carrega passageiros em direção similar ou nem tanto. 

No caso do ônibus descrito, ia rumo à Minas, rumo ao interior de Minas, rumo ao pão-de-queijo, rumo aos doces da páscoa, rumo aos ovos de chocolate feitos em casa (aos comprados também para entregar a crianças que ainda não possuem), rumo ao sentido do feriado de páscoa, rumo à criança que deve haver em cada um de nós, rumo à vovó, rumo ao seu priminho, à brincadeira saudável, ao cantar, ao sorrir, ao dançar, rumo os rumores alheios de um um ônibus desconhecido ou rumo aos novos conhecidos que merecem ser mantidos, na memória das trocas de uma única viagem em conjunto ou ao longo do passar das horas, das fotografias que ainda podem ser clicadas com a câmera do celular ou de outro equipamento, das músicas e experiências que podem ser cambiadas, além do chocolate, além das lembranças que desejamos manter. Rumo ao passar do ônibus pelas paisagens, passagens e tickets, ao passar dos passarinhos, dos mares, das paixões, das tempestades ou rumo a uma nova visão do Sol, com admiração maior de seu movimento, desde quando nasce até que se ponha. Um novo renascer a cada dia e o movimento da Lua também. Não podemos virar “pessoas grandes” e deixar de admirar os corpos celestes. Quando pequena, uma amiga tinha uma amiga que fazia olimpíadas de matemática e astronomia. Como ela ia bem em matemática e em astronomia nem tanto, focou na matemática e acabou se esquecendo um pouco dos planetinhas. 

Voltando à viagem do ônibus, no final daquela parte da estrada e da conversa constante, uma das passageiras só tinha a pensar: seu projeto é longo, Tamar. Não ousaria dizer se você está no caminho certo, porque dele só você sabe bem, só você conhece tão bem quanto você seu próprio caminho ou, pelo menos, busca conhecer. E você busca, Tamar, o que te faz ainda mais bela. Sei disso porque vi além dos seus cabelos, que são lindos... Cacheados na ponta e lisos no início, um tanto quanto isentos de tanta vaidade e, ainda assim, muito belos. Belos, inclusive, pela espontaneidade deles e pela pessoa que enxerguei atrás deles, ou melhor, pela pessoa que movimentava aqueles discretos cachos no ônibus. Cachos como ondas no mar, maiores ou menores, mas há sim um mar em seus cabelos. E nos olhos há flores, dois girassóis especificamente, buscando a luz e o brilho do Sol, a energia luminosa dos 22, que poderiam ser 19, 25, 55, 85 anos ou além. Você parece buscar, Tamar, a energia luminosa da vida, em meio a uma escuridão que existe. 

Outra passageira se despediu do motorista do ônibus, agradeceu e desceu com sua criança. Os passageiros continuaram naquela viagem depois que você saltou, Tamar. As pessoas do banco da frente diziam que a viagem não tinha sido cansativa... Nada cansativa. Naquele momento, pensou-se que "a viagem tinha sido ótima, eu e Tamar nos conhecemos, nem usamos os fones e os celulares apenas registraram o momento a partir de algumas fotos". Enquanto íamos por aquele trajeto, a Marisa Monte e o Nando Reis já haviam anunciado que enquanto íamos pela manhã, em certas regiões, já anoitecia. Enquanto íamos por aquele trajeto, as crianças lá no ônibus [algumas atrás outras na dianteira] perguntavam continuamente “estamos chegando mamãe, estamos chegando”? Exatamente o que fazem as crianças em viagens longas de carro com a família. Milhares delas, na infância, ficam o tempo todo querendo chegar logo aos seus destinos [ou ao destino destinado pelos pais] para determinadas viagens.

Uma das crianças [pela voz, percebia-se, naquele momento, que era o mesmo menininho] dizia: “Estamos chegando né, mamãe?”. Suas perguntas [igualmente] constantes pareciam leva-lo a chorar porque ainda não havia chegado ao final destinado pelos pais. O mesmo menininho, lá no fundo do ônibus, gritava, ao mesmo tempo que falava de cores: “tem azul, amarelo; amarelo e azul”. Ele falava das cores que via, não das cores dos álbuns da Marisa, dos filmes de Almodóvar, nem das cores de Frida Kahlo; ou de demais musicistas, diretores, pintoras ou quaisquer artistas que talvez nem conhecesse. O menininho falava das cores que queria ver, conhecer e talvez pintar. O menininho continuava lá no ônibus perguntando à mãe sobre o tempo daquela viagem, o que, de modo traduzido para a linguagem infantil, significava “estamos chegando na vovó, mamãe”? Nem é na casa da vovó que a criança falava, era direta e sinceramente “na vovó” que o menininho queria chegar, embora o destino da família fosse a casa da avó do menino. Na visão das “pessoas grandes”, eles dois [menino e mãe] chegariam a uma casa, a uma construção de concreto, construída por pedreiros com tijolos, cimento e demais materiais de construção. Com tintas de diferentes preços e marcas para colorir casas, lares e construções de modo geral. Os dois poderiam chegar a uma mera casa ou a um lar, cheio de possibilidades. Poderiam chegar à casa ou ao lar da vovó.

Enquanto o ônibus seguia sua direção, uma pessoa adulta não parava de olhar, só porque você não tirava a lapiseira grafite 0.7 [que poderia funcionar com grafite 0.5, ser lápis, caneta, etc.] do seu bloco de notas e desviava o mínimo possível o olho do bloco. O cara lá na frente dirigindo o trajeto [conhecido como motorista do ônibus], disse: “Martins Soares”. Então, já em Minas, depois da fronteira com Espírito Santo, percebeu-se que realmente estava perto de Manhuaçu. Estava chegando mesmo. Você, que havia conversado sobre seu percurso com a Tamar, que havia escutado bem o dela, que tentava dar conselhos sobre os cursos que poderiam ser feitos, desfeitos ou refeitos, levava do ônibus algo além de suas malas, das bagagens e das memórias. Levava as percepções do ônibus, de uma viagem de ônibus e de algumas viagens interiores dentro de um ônibus. 

Você levava as suas ideias e o que havia percebido em algumas horas ao lado de outra pessoa. A outra pessoa havia saltado antes e, em breve, você saltaria, sabia que saltaria do ônibus depois da Tamar, porque os destinos eram diferentes. Aconselhava a pessoa ao lado de que as experiências são válidas, já que aprendemos com elas o que fazer ou, pelo menos, o contrário... O que não fazer! Buscamos aprender e a Tamar parecia buscar... Então, na realidade, a Tamar talvez nem precisasse de tantos conselhos, mas conselho é mesmo uma forma de nostalgia. Então, depois que ela saltou, você deixou as demais pessoas com suas percepções e não compartilhou a sua com mais nada nem ninguém, além do próprio bloco de notas. Enquanto o ônibus não chegava ao destino, você anotava, escrevia, aguardava, tentava guardar o bloco e ficava com as perguntas, as respostas, as palavras, as vozes e a pureza das crianças falando sobre cores, sobre a chegada ou sobre os caminhões e caminhos da estrada. Você decidiu [e decide] ficar com a pureza das respostas e dos questionamentos infantis, porque isso também é vida... A vida é bonita, é bonita e é bonita mesmo! Você acredita que é e sente que ela, embora finita e injusta, vale a pena. 

Você sabe e sente que a vida vale muito e que uma hora a viagem acaba, descalça no parque, ou não, deitada em outro lugar, com pessoas queridas ao redor ou nem tantas. Você sabe e sente que o ônibus vai chegar em breve no interior de Minas e que qualquer viagem, em algum momento, chega ao fim, porque [assim como para cada panela há uma tampa] para toda viagem há um destino final. Então, as respostas das crianças são respondidas pelas mães “sim, chegou” e aqueles pequeninos seres continuam falando das cores. A vida continua bela se repararmos as simplicidades dela, da preciosidade denominada vida; se repararmos alguns comportamentos das crianças e repararmos nelas, em vez de tentarmos modificar tanto as "pessoas grandes" que não querem ser reparadas. Porque as crianças continuam falando das cores e o amarelo já havia virado Yellow no ônibus. E elas continuavam falando das cores...


O que importa, além de observar os pequeninos, os pequenos detalhes, o meio ambiente e nem sempre tentar reparar os grandes detalhes, nem as "pessoas grandes", é incentivar algumas mudanças nas pessoas adultas que você acha que merecem e que podem ouvir. O que importa, além de si, é o amor que você dá e recebe até o ônibus chegar à parada, ao destino final dele, com um passageiro saltando aqui e outro ali, com as crianças comendo guloseimas e falando até dos esportes que ainda não praticaram e de cores ao mesmo tempo. O que importa é cada passageiro, com uma história e com suas respectivas "morais da história", algumas registradas em livros, inclusive infantis, outras registradas na memória e no coração das pessoas. O que importa também é querer viajar e se permitir ser o passageiro do ônibus ou da moral da história. Permitir-se, ao final da viagem dizer aliviado e em paz: viajei bem, gostei da viagem, o motorista não correu tanto, ou só correu quando precisou acelerar, chegamos todos bem ao destino final, ao juízo final próprio, alheio, ou apenas à rodoviária. Chegamos bem graças a todos, cheguei bem graças a mim, inclusive, então, posso sair do ônibus e caminhar rumo à vovó. 


As crianças presentes no ônibus vão à casa da avó para passar o feriado da Páscoa. Você quer continuar ouvindo as crianças, internas ou externas ao ônibus e a você. Elas continuam falando das cores da vida. Então, lembre-se Tamar: importa conhecer e cativar alguém, importa amar alguém, importa ouvir Marisa Monte também. Ela canta que é preciso ter “atenção para escutar o que você quer saber de verdade”. Ah, reitero que conselho é uma forma de nostalgia. Além desses pequenos conselhos sobre um pouco de tudo isso, o que importa é que há tantos motivos que importam, que a vida vale a pena e, por vezes, é bem bonita. Foi um prazer conhece-la, temos ainda muitas fotografias para registrar das paisagens naturais, das crianças e até de nós mesmas, uma da outraO motorista, aquele que no início da viagem deu instruções aos passageiros, dizia ao final: “bom feriado a todos, bom fim de semana”. Você sorri, agradece ao motorista, mentalmente aos passageiros que viajaram com você, pela inspiração e pela companhia, sai do ônibus, para de escrever mesmo no bloco e sai da rodoviária com todas aquelas bagagens.