quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Da infância, do desconfortante conforto, da memória e de outros tantos

Há cerca de 12 anos, em um planeta muito muito distante, ouvi pela primeira vez essa coisa de “areia demais para o caminhãozinho”. Não entendia o motivo de ouvir aquilo: as pessoas, grandes e pequenas, têm mesmo necessidades de explicações. Perguntava-me: Por que este menino está falando isso? Para me afastar dele? Pois é tão pequeno quanto parece? Fato é que, ao repensar sobre o porquê da frase, naquele contexto, vejo que é perfeitamente possível seu sentido. Desde então, ouvi novamente a mesmíssima frase, mas poucas vezes. Graças a Deus, porque, se todos os homens achassem as mulheres que pretendem conquistar “muita areia pro caminhãozinho”, faltariam caminhões e a areia realmente seria excessiva. 

Como andariam as obras e as construções, então? Como caminhariam os amores, os laços e os abraços? Lado a lado, um a um, dois a, empate ou WO? Já dizia a música “Eu não quero ganhar, eu quero chegar junto sem perder, eu quero um a um com você”. Daí uma hora essa história de caminhão, areia e obra acaba e você encontra alguém para manter um jogo equilibrado, sem empatar a sua vida, a própria vida ou a alheia. Essa coisa de caminhão e areia, areia e caminhão (prefiro mesmo denominar coisa à palavra), perde o sentido e a logística se adequa. A areia não se encontra em excesso para o caminhão y, isso se fosse possível descrever o amor em função. 

Além disso, a função do amor (se é que ele tem alguma) não seria mesmo a de competição, em grau algum, pelo contrário, o amor pressupõe parceria, um chegar junto mútuo. Mas há quem diga que continuarão a calcular por aí o excesso de areia para determinado caminhão ou de certo caminhão para determinada areia... E isso foge ao meu controle, foge a minha competência, porque não desejaria cálculo assim nem se já não tivesse meu caminhão. Prefiro mesmo é brincar com as crianças. De todo modo, com caminhão ou sem, as pessoas grandes tentam compreender tudo e, para tanto, necessitam de explicações. 



Então, seja lá o modo de transporte – caminhão, trator, carro, bicicleta, a pé, teletransporte de/para outro planeta – as pessoas grandes são assim: “nunca comprendem nada por sí solas y es cansador para nos ninos tener que darles siempre y siempre explicaciones”. Um brinde, pois, às crianças, pois estas permanecem em alguns adultos e existem coisas lindas, para além das findas, que merecem permanecer.


“[...] What are men to rocks and mountains? Oh! What hours of transport we shall spend! And when we do return, it shall not be like other travellers, without being able to give one accurate idea of anything. We will know where we have gone - we will recollect what we have seen. Lakes, mountains, and rivers shall not be jumbled together in our imaginations; nor, when we attempt to describe any particular scene, will we begin quarrelling about its relative situation. Let our first effusions be less insupportable than those of the generality of travellers.''
Jane Austen.

P.S: dedico ao pai; aos irmãos que escolhi; aos homens que não medem a areia por saco, por volume ou pela capacidade do caminhão e, por fim, mas não menos importante; ao Pedro, que me ajuda a enxergar além das pedras, a partir das montanhas. 

domingo, 2 de outubro de 2016

Morar em amor ou em Roma

Se a paixão é um risco e o amor um rabisco
Ou vice-versa, verso e vice
Rabisco amor em amora, sem querer ir embora. Morar em amor ou em Roma, ao contrário. O Coliseu, o Camafeu, as asas que me deu ou não necessariamente.
Arrisco, arisco, esquivo, arquivo, há risco.
Remar em paz, palavras, frases, fases, luares, lugares
Distantes. Rabiscar, colorir, repintar, rimar com letra, alma, coração e calma.

Rima ou remo, amor e além, entre pressa, pressão, preguiça, perfeição, destino, fatalidade, banalidade, idade, razão ou a falta de.

Entre razão, coração, vice-versa, verso.
Versão, conversão, coração de novo, versar, conversar sobre
A idade para não ter razão, somente por vezes,
Entre sim, não, talvez,
Entre colibri, colo, jardim e laço,
Entre a água, o arroz, a colheita, a coleta,
Entre a larva, a borboleta, as estações, a primavera...
Morar em amor ou em Roma.


O Coliseu, o Camafeu, as guerras, a paz, a Itália, as asas, as casas, as cartas, as cores, as construções, as paixões, as habitações, os cristãos, os conflitos, os aquedutos, os relatos, os retratos, as fotografias, o passado, gente que foi – amor ou amora – embora. 
O jardim novamente, a bailarina, seu colã, seu colar, seu olhar, seu caminhar, seu passo, seu compasso, seu pas de deux.
Seu pas de chat, seu chá, seu planeta, seu universo, seu inverso, seu mar, seu infinito particular, seu astronauta, sem tradução. Roma, Coliseu, Vitória, vitórias, Camafeu, ágata ou água. 
Imortais e intraduzíveis.











Ps.: Inspirada por Os Paralamas do Sucesso, Pitty, Tiê e outros tantos. Tendo a Lua. <3