É interessante como os dias chuvosos alteram nossas
vontades. A vontade de ir à praia é substituída pela vontade de uma viagem à
região montanhosa. O movimento, a agitação, a atividade e a ação sofrem com a
alteração das vontades durante os dias chuvosos, nos quais desejamos parar, pensar,
descansar, dormir, sentir o passar do tempo sem preocupações. Uma preguiça, uma
vontade de viajar com os amigos e não precisar voltar logo porque o feriado
está acabando, enquanto a chuva continua caindo. Uma vontade de cafuné, de
carinho, de conforto, de um banho quente, de um filme, de coberta, de
chocolate, de pipoca, de música erudita, de um leite com achocolatado na caneca
predileta, de uma ligação de vó, de um biscoito de polvilho feito com o amor dela,
de comer um pão quentinho com suco de caju ou de maracujá ou um pão de queijo
com chá ou café. A vontade de ficar em casa à toa, mas de parar de pensar, de
falar e de procurar a desejada comida. É surpreendente como os dias chuvosos
transformam os programas, as comidas, as viagens e as vontades. Em vez de ouvir
The Beatles no volume máximo e dançar Twist And Shout a noite toda, colocamos
para tocar uma música mais lenta, mais calma, um som menos intenso e que faça
acalmar a alma e lembrar pessoas queridas. É neste momento, no qual as nuvens
dão o sinal de que vão continuar bagunçando o tempo, que sinto vontade de ver
você. Não somente nesse tempo, tão chuvoso, tão fechado, tão nosso, mas
confesso que nele que as vontades aumentam. Vontade de um abraço apertado e de
ter levado o seu casaco na noite anterior para ter um pretexto para ver você no
dia seguinte ou no próximo. Vontade de um pretexto, um contexto, um motivo para
um novo texto, um concerto, uma caneca nova, um escrito seu para mim e outra
canção.